quarta-feira, 3 de março de 2010

Blog conjunto

Acabo de criar mais um blog, mas sei que ele será atualizado, pois é de autoria minha e de meu amigo Phelipe Albuquerque. Ele é ótimo. Vale a pena conferir.

PS: fim da overdose de hoje.

Da instabilidade das fontes

Só agora percebi que não consigo manter a mesma fonte em todos os posts do blog. Isso, a meu ver, se deve a dois fatores: primeiro, minha incapacidade em identificar qual a fonte utilizada na postagem anterior. Segundo, os intervalos gigantes entre um texto e outro, que fazem com que seja impossível lembrar qual fonte eu usei anteriormente.

Diante desta triste realidade, peço desculpas a meu leitor em potencial (tentei lembrar o nome que damos a você na Teoria Literária, mas não fui capaz) pelo inconveniente de ler um blog sem esmero editorial até hoje. Como acredito que arrependimento deve gerar mudança e compensação, escolherei uma fonte - a saber, arial - e editarei tudo quanto já foi publicado neste mamão. Eis finalmente uma das vantagens de escrever pouco.

Não à civilização do grito e do barulho

Como sabem, este blog não é sobre catolicismo, mas minha paixão por Roma está em toda parte.

Que época barulhenta a nossa. Jovens gritam mais do que antes. Os próprios adultos, comportando-se de modo irracional e “macaquesco”, parecem não ter consciência de sua maturidade biológica, e agem como adolescentes. As diversões quase todas são barulhentas. E se antes ouvíamos som alto em casa ou no carro fechado – confesso, gosto de rock, blues, jazz e música campeira em volumes mais expressivos –, agora somos obrigados a ouvir pelas ruas, nos carros com porta-malas abertos e vidros baixos – e não o bom rock, o bom blues, o bom jazz e a boa música campeira, mas os terríveis axés, pagodes, forrós, tchês e pseudo-funks.

Os escritórios e gabinetes de trabalho são barulhentos. As pessoas ainda têm a mania de andar sempre com aparelhos de mp3 nos ouvidos, sempre desatentas ao mundo. Fora a mal-educada cultura de serviços de telemarketing em sempre interromper o justo sossego com ofertas imperdíveis. Aliás, já que tocamos em oferta, quem não se estressa com as propagandas de certas lojas na TV, em que até a fala é “gritada”, e parece que os anunciantes estão se “esganiçando”, como dizemos no sul?

Tal fato não é produto do acaso. Vivemos em uma sociedade que tem por base ideológica o esquecimento do pensamento e o desprezo da própria consciência. “É proibido proibir”, diziam em 1968, e isso forjou toda uma geração. Desejando tolher aquela que mais proibiria – a consciência –, as pessoas passaram a refugiar-se no barulho. O grito é o modo mais eficaz de inibir a auto-reflexão, de impedir que a voz da consciência nos diga o que fazer o que não fazer. Gritando, submetendo-me ao barulho diuturno, vivendo em um ritmo frenético entre trabalho e lazer agitado e, quando estou em casa, com a novela ou o filme ou o jornal sempre ligados, calo a consciência. Impeço-a de me proibir, de me pautar, de me fornecer os dados necessários de uma moral objetiva para meu comportamento. Se a consciência e a moralidade tentam falar comigo, enclausuro-me no barulho para que não ouça sua voz. A suavidade da voz da consciência é nublada pela ensurdecedora algazarra moderna. Como C.S. Lewis, autor das Crônicas de Nárnia, fazia soar pela boca do diabo-tio ao diabo-sobrinho, em forma de “conselho”: quando alguém está perto de pensar em Deus, distrai-o com qualquer coisa… E o barulho faz isso!

É muito sintomático. Nossa sociedade, ao abandonar seus valores mais profundos de cristianismo e moral, está doente. E o remédio, que é o silêncio, é escondido justamente para que de nossos males não nos curemos. Um triste “dilema Tostines”: estamos eticamente doentes porque gritamos e não queremos a quietude, ou gritamos e não queremos a quietude porque estamos eticamente doentes?

O que me deixa assustado é perceber que mesmo aqueles locais em que se poderia encontrar uma esperança parecem aderir aos costumes do tempo. Quantas e quantas igrejas são abertas, em cada esquina, que, a pretexto de louvar a Deus, despejam toneladas de decibéis em nossos ouvidos, como se Cristo fosse surdo para ouvir os clamores dos que se lhe pretendem fiéis!

E até mesmo nas igrejas católicas do Brasil, nem sempre encontramos a paz exterior que tanto conduz à paz interior. Contrariando a tradição da Igreja e as próprias determinações do Papa, o que é mais tristemente comum em nossas liturgias é o terrível espalhar de “bateção de palmas”, de gritos aleluiáticos, de sermões aos berros! O coro gregoriano, a melodiosa polifonia, e mesmo os cantos populares mais sóbrios e tradicionais, foram substituídos, mesmo que em flagrante desobediência às normas litúrgicas que nos chegam de Roma, por bandas de pop-rock, com suas guitarras, baterias e violões estridentes, com seus microfones altíssimos, com suas músicas agitadas e que fazem o povo pular, não rezar. Letra religiosa não é sinônimo de profundidade espiritual nem de calmaria. Sem falar dos “vamos saudar a Cristo com uma salva de palmas”, tornando a adoração a Deus, que deveria ser, conforme o Evangelho, em espírito e em verdade, em uma festa mundana, com critérios profanos. A falsa alegria, outrossim, substitui a piedosa e lenta recitação do terço, o diálogo alegre e superficial toma o lugar do confessionário, a oração gritante e acompanhada de palmas e bateria ocupa o que antes eram as horas tranqüilas em frente ao sacrário. É Adélia Prado, a grande poetisa brasileira, que fala que precisa sair da igreja para rezar?

Ensina D. Antônio Vitalino, Bispo português, que "a atitude de escuta e o silêncio (…) fazem parte da oração autêntica” e que “vivemos num tempo de barulho, de palavreado, de demagogia, de processos infindáveis, em que os sofismas das palavras procuram escamotear e ocultar os fatos, criando realidades virtuais contra as vítimas reais".

Sirva esta Quaresma para buscar o silêncio. Mas, como, se em nossos templos nem sempre a ajuda necessária está à disposição?