sexta-feira, 9 de julho de 2010

Bala de troco

Concordo plenamente com esse post do Túlio P&B. Muítissimo engraçado esse vídeo. Sempre rio quando assisto, e passo o dia inteiro num combate mental cruel entre essa música, stereo love e qualquer uma da Lady Gaga com a qual eu possa desgraçadamente esbarrar.

quarta-feira, 3 de março de 2010

Blog conjunto

Acabo de criar mais um blog, mas sei que ele será atualizado, pois é de autoria minha e de meu amigo Phelipe Albuquerque. Ele é ótimo. Vale a pena conferir.

PS: fim da overdose de hoje.

Da instabilidade das fontes

Só agora percebi que não consigo manter a mesma fonte em todos os posts do blog. Isso, a meu ver, se deve a dois fatores: primeiro, minha incapacidade em identificar qual a fonte utilizada na postagem anterior. Segundo, os intervalos gigantes entre um texto e outro, que fazem com que seja impossível lembrar qual fonte eu usei anteriormente.

Diante desta triste realidade, peço desculpas a meu leitor em potencial (tentei lembrar o nome que damos a você na Teoria Literária, mas não fui capaz) pelo inconveniente de ler um blog sem esmero editorial até hoje. Como acredito que arrependimento deve gerar mudança e compensação, escolherei uma fonte - a saber, arial - e editarei tudo quanto já foi publicado neste mamão. Eis finalmente uma das vantagens de escrever pouco.

Não à civilização do grito e do barulho

Como sabem, este blog não é sobre catolicismo, mas minha paixão por Roma está em toda parte.

Que época barulhenta a nossa. Jovens gritam mais do que antes. Os próprios adultos, comportando-se de modo irracional e “macaquesco”, parecem não ter consciência de sua maturidade biológica, e agem como adolescentes. As diversões quase todas são barulhentas. E se antes ouvíamos som alto em casa ou no carro fechado – confesso, gosto de rock, blues, jazz e música campeira em volumes mais expressivos –, agora somos obrigados a ouvir pelas ruas, nos carros com porta-malas abertos e vidros baixos – e não o bom rock, o bom blues, o bom jazz e a boa música campeira, mas os terríveis axés, pagodes, forrós, tchês e pseudo-funks.

Os escritórios e gabinetes de trabalho são barulhentos. As pessoas ainda têm a mania de andar sempre com aparelhos de mp3 nos ouvidos, sempre desatentas ao mundo. Fora a mal-educada cultura de serviços de telemarketing em sempre interromper o justo sossego com ofertas imperdíveis. Aliás, já que tocamos em oferta, quem não se estressa com as propagandas de certas lojas na TV, em que até a fala é “gritada”, e parece que os anunciantes estão se “esganiçando”, como dizemos no sul?

Tal fato não é produto do acaso. Vivemos em uma sociedade que tem por base ideológica o esquecimento do pensamento e o desprezo da própria consciência. “É proibido proibir”, diziam em 1968, e isso forjou toda uma geração. Desejando tolher aquela que mais proibiria – a consciência –, as pessoas passaram a refugiar-se no barulho. O grito é o modo mais eficaz de inibir a auto-reflexão, de impedir que a voz da consciência nos diga o que fazer o que não fazer. Gritando, submetendo-me ao barulho diuturno, vivendo em um ritmo frenético entre trabalho e lazer agitado e, quando estou em casa, com a novela ou o filme ou o jornal sempre ligados, calo a consciência. Impeço-a de me proibir, de me pautar, de me fornecer os dados necessários de uma moral objetiva para meu comportamento. Se a consciência e a moralidade tentam falar comigo, enclausuro-me no barulho para que não ouça sua voz. A suavidade da voz da consciência é nublada pela ensurdecedora algazarra moderna. Como C.S. Lewis, autor das Crônicas de Nárnia, fazia soar pela boca do diabo-tio ao diabo-sobrinho, em forma de “conselho”: quando alguém está perto de pensar em Deus, distrai-o com qualquer coisa… E o barulho faz isso!

É muito sintomático. Nossa sociedade, ao abandonar seus valores mais profundos de cristianismo e moral, está doente. E o remédio, que é o silêncio, é escondido justamente para que de nossos males não nos curemos. Um triste “dilema Tostines”: estamos eticamente doentes porque gritamos e não queremos a quietude, ou gritamos e não queremos a quietude porque estamos eticamente doentes?

O que me deixa assustado é perceber que mesmo aqueles locais em que se poderia encontrar uma esperança parecem aderir aos costumes do tempo. Quantas e quantas igrejas são abertas, em cada esquina, que, a pretexto de louvar a Deus, despejam toneladas de decibéis em nossos ouvidos, como se Cristo fosse surdo para ouvir os clamores dos que se lhe pretendem fiéis!

E até mesmo nas igrejas católicas do Brasil, nem sempre encontramos a paz exterior que tanto conduz à paz interior. Contrariando a tradição da Igreja e as próprias determinações do Papa, o que é mais tristemente comum em nossas liturgias é o terrível espalhar de “bateção de palmas”, de gritos aleluiáticos, de sermões aos berros! O coro gregoriano, a melodiosa polifonia, e mesmo os cantos populares mais sóbrios e tradicionais, foram substituídos, mesmo que em flagrante desobediência às normas litúrgicas que nos chegam de Roma, por bandas de pop-rock, com suas guitarras, baterias e violões estridentes, com seus microfones altíssimos, com suas músicas agitadas e que fazem o povo pular, não rezar. Letra religiosa não é sinônimo de profundidade espiritual nem de calmaria. Sem falar dos “vamos saudar a Cristo com uma salva de palmas”, tornando a adoração a Deus, que deveria ser, conforme o Evangelho, em espírito e em verdade, em uma festa mundana, com critérios profanos. A falsa alegria, outrossim, substitui a piedosa e lenta recitação do terço, o diálogo alegre e superficial toma o lugar do confessionário, a oração gritante e acompanhada de palmas e bateria ocupa o que antes eram as horas tranqüilas em frente ao sacrário. É Adélia Prado, a grande poetisa brasileira, que fala que precisa sair da igreja para rezar?

Ensina D. Antônio Vitalino, Bispo português, que "a atitude de escuta e o silêncio (…) fazem parte da oração autêntica” e que “vivemos num tempo de barulho, de palavreado, de demagogia, de processos infindáveis, em que os sofismas das palavras procuram escamotear e ocultar os fatos, criando realidades virtuais contra as vítimas reais".

Sirva esta Quaresma para buscar o silêncio. Mas, como, se em nossos templos nem sempre a ajuda necessária está à disposição?

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

De máquinas do tempo

Nas palavras da vida de Joseph Klimber, a vida é uma caixinha de surpresas. E qual não foi a minha surpresa ao me deparar hoje com um belo Opala - vou escrever assim mesmo, afinal Opala não é um carro qualquer, mas sim um Carro - , inteirinho, lindinho, tudo no seu lugar, em um maravilhoso tom acobreado que reluzia ao sol. O Opala não tinha fumê, mesmo porque Opala não se presta a fumês, não é carro de garotão, e sua maravilhosa pintura parecia original e muito bem conservada, além da ausência de qualquer tipo de adição de massa na lataria, pelo menos à primeira vista. Como não tivesse nem fumê nem ocupantes, pude contemplar o carro cuidadosamente, e constatei a maravilha do banco de couro. Ah, aqueles bancos...Eram daqueles sem encosto de nuca e sem alavanca para levantar, embora o carro fosse duas portas. Assim, sem o encosto de cabeça, os bancos pareciam mais baixos, mas sobretudo podia-se perceber que eram bem mais largos que esses nossos bancos hodiernos. Como eu queria pegar a estrada naqueles bancos.

E agora você, que sabe-se lá porque cargas d'água veio bater neste abandonado blog, se pergunta
"por que diabos eu estou lendo isso?" Você se fará essa pergunta independentemente de quem seja, goste você de carros ou não. Sim, porque, se você gosta de carros, já deve ter percebido que eu não sei nada sobre eles; e se não gosta, parabéns, você é um herói por ter chegado até aqui. De qualquer modo, continue.

Pois bem, falávamos dos bancos. Voltemos a eles. Olhando aqueles bancos e me vendo neles com uma força imaginativa que eu mesmo desconhecia ter, me peguei também em uma lembrança das mais profundas, de uma única vez em que andei em uma badalada Hilux. Embora esses carros tenham fama de confortáveis - e de fato o são -, percebi neste momento que o conforto de uma Hilux nem de longe se compara ao conforto de um Opala. Claro que o simples fato de se estar em um Opala, ouvir o motor roncar como não se ronca mais, já contribui em muito para a experiência do Opala, mas aqueles bancos... tenho pra mim que não tem igual. Então pensei naquela história de gente velha - e que eu muitas vezes me pego reproduzindo, cada vez com mais frequência - de que as coisas era boas mesmo era antigamente, que esses produtos de hoje não duram nada. Aqui em casa tem uma batedeira de quando meus pais casaram (o casamento se acabou mas a batedeira não). Ainda durmo na minha primeira cama, e tenho certeza de que ela aguenta até eu casar. Vemos fuscas da década de 60 andando por aí, atirando pela descarga ou não. Já a estante do meu computador, se você passar perto ela treme toda. Acho até que a coitada tem Síndrome do Pânico. Meu mini system e meu dvd há muito foram pro saco, assim, de uma hora pra outra. E até mesmo as pessoas de antigamente duravam mais. (Quem tem uma avó com rinite alérgica levanta a mão.)

Não sou um entusiasta do passado (exceto no que se refere a Opalas, é claro), mas hoje, olhando praqueles bancos, eu pensei comigo: "não se faz mais conforto como antigamente".

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Da alegria de uma velha amizade

Desculpem-me meus leitores imaginários se de repente escreve um post atrás do outro e depois passo dez anos a seco. É que eu sou assim mesmo, instável, e isso não é um privilégio de vocês.

O que me move a escrever hoje é uma enorme satisfação.

Houve um tempo em que eu e uma grande amiga dos tempos do colégio nos orrespondíamos por carta. Trocamos algumas cartas, e de repente ela deixou de me escrever de volta. Tudo bem. Ainda a amo. Houve também um outro tempo em que eu e uma outra amiga dos tempos do colégio - outros tempos, bem próximos àqueles de que falei antes, mas outros - nos correspondíamos por e-mail. Não me lembro como começou nossa correspondência, nem por quê, mas lembro que trocamos vários e-mails. De repente, nossa correspondência parou. Só que, dessa vez, por minha causa. Acho que fiquei fora do ar por um tempo, como ainda hoje costuma acontecer com bastante frequência, que o digam meus decepcionados e inconsoláveis amigos que tentam me contactar por orkut.

Bom, o fato é que hoje nos reencontramos no msn, esse mesmo msn que quase nunca eu utilizo. Que feliz surpresa! (Será que consegui alcançar o tom nostálgico e antigo que queria com essa frase?) Nesse exato minuto estamos conversando.

Só queria compartilhar com vocês, leitores que estão na minha cabeça criativa, a enorme alegria de reencontrar uma amizade de velhos tempos e ver que ela sobreviveu a esses tempos.

Obrigado.

PS: enquanto escrevia esse texto, fui brindado com a entrada de um amigo que está no ITA. Mas isso merece outro post.

terça-feira, 30 de junho de 2009

Não resisti!

Depois de ler inúmeras matérias sobre ele, depois de ver alguns amigos se juntarem a ele, e finalmente depois de receber um convite para ir eu também para ele, finalmente eu cedi: fiz uma conta no twitter!

É, eu sei, é triste...começa assim, com um bloguinho à toa, que ninguém vê...de repente BUM! Eis-me nerd. Mas tudo bem, a vida é assim mesmo...

Agora, se vocês (será que alguém AINDA lê isso? Acho que até o Caio, meu fiel e único leitor, já desistiu do Mamão) quiserem me acompanhar...

twitter.com/adpinheiro

A gente se vê...

sexta-feira, 6 de março de 2009

Caso Lagoinha

Chega! Já não suporto mais! Hoje o Jornal Nacional mais uma vez dirigiu suas acusações ao arcebispo de Olinda e Recife e à Igreja Católica. Diante de tantos impropérios, vejo-me na obrigação de defender a fé, a Igreja e a mim mesmo. Sim, a mim mesmo! Pois também eu sou Igreja e também a mim me ofenderam os jornais.

Primeiramente, é curioso observar que aqueles que gozam de um maior senso crítico em relação àquilo que lhes é posto quase sempre se referem ao Jornal Nacional como um programa digno de pouquíssima confiança. No entanto, basta William Bonner dirigir acusações à Igreja Católica, o JN passa a ser um formador de opinião referencial para o cidadão brasileiro.

Depois, note-se o uso de estratégias retóricas simples na elaboração das entrevistas: os cortes bem posicionados, a ordem em que as falas são apresentadas etc. Notemos também como é dada grande ênfase àqueles que defendem o aborto, enquanto que os que defendem a vida são postos de lado. Será que o fato de a matéria terminar com o âncora do jornal criticando a Igreja ao dizer, em tom irônico: "Os pais da menina e a equipe médica foram excomungados, mas o padrasto não sofreu nenhuma punição" não induz a população a pensar de uma ou de outra forma? Ainda não vimos os jornais darem voz a médicos - e não são poucos - que sejam contra o aborto, que apresentem os motivos porque se deve ser contra o aborto. Não como aquele médico - que se diz católico e, curiosamente, não se importa nem um pouco com a excomunhão -, ou como aquela comissão que apóia o aborto. Por que não se consultam esses profissionais pró-vida? Qual o medo? Que a ciência mostre que não há como definir quando começa a vida se não no momento em que o espermatozóide encontra o óvulo?

Não é curioso como o âncora do JN insiste em dizer que o arcebispo excomungou os pais da vítima e a equipe médica, quando já foi mais que explicado - será que William Bonner não procura pesquisar acerca das notícias que veicula, ao menos quando estas causam tanto impacto na sociedade? - que o arcebispo não excomungou ninguém, apenas informou que eles estavam excomungados, pois a excomunhão que recai sobre eles é latae sententiae, ou seja, de sentença subentendida, que não necessita passar por nenhum tipo de juízo (Cân. 1314: O mais das vezes, a pena é ferendae sententiae, não atingindo o réu, a não ser depois de infligida; é latae sententiae, quando nela se incorre pelo simples fato de praticar o delito, se a lei ou o preceito assim o estabelecem expressamente). Ora, se eu matar um homem no meio do deserto, sem que mais ninguém saiba o que eu fiz, eu cometo um crime, não é necessário que um delegado de polícia, por exemplo, transforme o meu ato em crime, pois o homicídio é crime previsto em nossa legislação. Caberia ao policial, além de me prender, tão somente declarar a mim e à sociedade que eu cometi um crime. Foi isso o que o arcebispo fez!

Por causa desse tipo de postura - como a do presidente Lula, que disse em rede nacional que "a ciência está mais certa que a Igreja" - é que nós assistimos calados ao assassinato - soa mais duro que aborto, não? - de um milhão de crianças por ano no Brasil. Isso mesmo, todo ano um milhão de brasileiras matam seus próprios filhos. 50 milhões de mulheres em todo o mundo. Esperemos e veremos: o governo vai se aproveitar de toda a questão para, uma vez mais, trazer à baila a liberação do aborto - pois legalizado ele já foi há muito tempo, haja vista toda essa situação - e, provavelmente, se agir com rapidez, conseguirá liberar plenamente uma das modalidades mais cruéis de homicídio. O que virá depois? Na busca pelo "progresso" e pela "liberdade" legalizar-se-á a venda de drogas como maconha e cocaína para consumo próprio, pois assim se faz nos países desenvolvidos; depois o suicídio assistido - que também atende pelo lindo e eufêmico nome de eutanásia (em grego, thanatos significa morte, e o prefixo eu indica beleza, perfeição, embora a eutanásia não tenha nada de perfeito) -, pois assim fazem os países desenvolvidos; depois liberaremos o sexo nos parques públicos, pois assim é nos países desenvolvidos.

Por que será que a Igreja, em seu Código de Direito Canônico, julga o aborto um crime mais grave que o estupro, por exemplo? Será porque, no aborto, comete-se um assassinato contra o próprio filho de forma covarde, sem dar-lhe nenhuma chance de defesa, chance de gritar, chorar, espernear ou ao menos de parecer fofinho aos olhos do assassino? Não vejamos aqui nenhum tipo de defesa do estupro. Não! Claro que não! É claro que esse crime hediondo é repudiado pela Igreja, ouso dizer que mais até que pelo restante da sociedade, mas não podemos deixar que nossa revolta nos turve os olhos e nos leve a "curar" um crime com outro.

Se não temos o direito de matar o estuprador, que é culpado de tão horrendo crime, por que temos o direito de matar as duas crianças, que eram inocentes?

Nós, católicos, já não temos o direito de falar? Já não temos o direito de expor nossas opiniões? Somos acusados de intransigência em todos os lugares: nos jornais, na internet, nas escolas, nas universidades, no trabalho. Até mesmo em casa nossos parentes nos perseguem por causa da nossa fé. Eu mesmo cheguei a ouvir: "Isso é porque a Igreja, quando escreveu essas leis, não se importava com o estupro"! Como pode! Que coisa mais absurda! Sinto que estamos sozinhos, e não temos consolo algum que não Aquele que é nossa fé e que nos motiva a lutarmos pela verdade, seguindo o corajoso exemplo de fé e confiança na Verdade que nos dá Dom José Cardoso Sobrinho.

Por isso, meus irmãos, eu digo: que grite ainda mais alto a voz do deserto! Já que não nos ouvem ainda, gritemos mais alto! Levemos este texto às nossas famílias, aos nossos amigos, colemo-no nas paredes das escolas e das universidades, nas paredes dos condomínios, no trabalho, em todos os lugares; demos uma cópia desse texto para nossos professores marxistas de História, uma outra para nossos amigos ateus. Tragamos a tona essa discussão e oremos ao Senhor para que nos dê palavras de ciência que elucidem as mentes e os corações.

Como cristãos que somos, devemos seguir o exemplo que nos deixa o Senhor e perdoar aqueles que erram, assim como Ele perdoou os que lhe imprimiram tão dolorosas chagas: "Pai, perdoa-os, eles não sabem o que fazem". Rezemos ao Pai para que nos dê um coração misericordioso e humilde, pois também nós somos tão pecadores quanto eles, e peçamos também que lhes perdoe, pois verdadeiramente não sabem o que fazem. Mas nem por isso deixemos de cumprir o nosso dever para com a Verdade, qual seja: anunciá-la a todos os povos.

Não calemos, para que as pedras não tenham de falar por nós.

PS: por favor, leia:

RODRIGUES, Pe Edson. Apostolado Veritatis Splendor: GRÁVIDA DE GÊMEOS EM ALAGOINHA. Disponível em http://www.veritatis.com.br/article/5639. Desde 06/03/2009.


quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

E o Natal?

Chega o Natal. Mais uma vez vemos a cidade cheia de luzes: nas casas, nas praças, nos shoppings há uma festa de luzes multicoloridas e há música, e a expectativa da noite do dia 24, véspera de Natal, cresce em nós a cada dia.

E fica por isso mesmo. Nos reunimos, geralmente com a família, nos cumprimentamos, alguns, menos tímidos, arriscam abraços e desejos de Feliz Natal. Comemos. Dormimos. É isso. E fica em nós meio que perdido um sentimento que achamos, lá no fundo, que deveria estar ali. Há algo que falta, há um buraco latente, uma alegria que queria vir mas não veio.

Assim, todo o sentido do Natal se esvai, e logo substituímos a manjedoura com o menino pela bandeja com o peru, e os três reis magos que vêm ofertar presentes por uma dúzia de comensais que vêm destrinchar o peru e dormir de barriga cheia. Vá lá que devemos comemorar o Natal e que a ceia farta seja já uma tradição, e não a desmereço, longe de mim. Apenas quero que a gente, você e eu, pense um pouco sobre tudo isso. Vivemos um Natal como aquele do conto de Dalton Trevisan, O Peru de Natal: o Natal de uma morte, não de um nascimento. Invertemos a lógica da coisa: não fazemos uma bela ceia e trocamos presentes para comemorar o Natal: fabricamos um natal apenas porque queremos comer e receber presentes. Fabricamos, sim, nas lojas e na indústria, e depois o vendemos na televisão, nas vitrines em seis vezes sem juros com Mastercard. Papai Noel mostra que tem onipresença: está ao mesmo tempo em todas as lojas, todos os especiais de fim de ano, todas as chaminés e todos os sinais da cidade. E o Menino que é bom, nada.

Mas, e o menino? Sim, porque eu acho que toda essa história de Natal tinha a ver com um menino, não? Pois é. O menino, coitado, nós o abortamos, o matamos antes mesmo que pudesse nascer. Quando chega agosto e você liga a televisão e vê: "Já é Natal nas lojas Mamão!", foi aí que ele morreu. Aquele sentimento, que deveria ter vindo mas não veio, não veio porque morrera, lá em agosto. E no dia 24 festejamos o nada.

Lembremos do Menino, do milagre do seu nascimento: Deus se faz homem, mais, se faz menino, criança, frágil, vulnerável, precisando que nós o carreguemos nos braços. Lembremos que esse Deus que, sendo Deus se fez homem pobre e humilde, esse Deus se "aniquilou" (nas palavras de São Paulo) para que nós fôssemos salvos. E nós poderíamos, pelo menos, deixar florescer em nós esse sentimento tão natural de generosidade natalina, que muitas vezes lutamos em reprimir, até que chega o dia em que ele se embota dentro de nós. Deixemos que Jesus nos traga a generosidade e a alegria do Natal, nos dando um motivo porque celebrar.

Certa vez uma amiga me disse que achava tudo isso muito hipócrita, que não tinha porquê as pessoas agirem diferente no Natal se no resto do ano éramos todos egoístas, e que melhor seria se fosse ao contrário, se vivêssemos essa generosidade no resto do ano. Tenho que concordar que deveríamos (começando por mim) cultivar esses sentimentos por todo o ano, mas isso de forma alguma desmerece o Natal. Pelo contrário! É justamente ao vermos que mesmos aqueles mais duros se derretem no Natal que sentimos aquele sopro de esperança em nós mesmos, que esquecemos, ainda que por uma noite, os males que causamos e que nos causaram. Não podemos chamar de hipócrita uma pessoa dura que se emociona uma vez com uma música ou um pôr-do-sol. Ora, se essas coisas são capazes de mudar as pessoas, ainda que momentaneamente, quem dirá o Natal! A própria encarnação de Deus!

Deixe que o amor de Deus se mostre a você e, encontrando em seu coração terra boa, germine e dê bons frutos, cujas sementes também germinarão em outros corações. Feliz Natal. Deus te abençoe.

sábado, 15 de novembro de 2008

Da natureza do mercado

"Vaidade das vaidades - diz Coélet - vaidade das vaidades, tudo é vaidade." Assim começa o livro de Eclesiastes, onde a palavra hebraica coélet significa o homem da assembléia, o pregador. Diante da crise econômica que se apresenta, somos levados a nos preocupar com o que vai ocorrer com as taxas de juros, os preços dos produtos que vêm de fora, a balança de exportações nacional e sua repercussão no financiamento de imóveis e veículos.

Nietzsche diria que o homem cria coisas (entendidas aqui como valores axiológicos) e depois esquece que as criou. No século XVI, os holandeses, encantados com a beleza das tulipas, lhes atribuíram valores de mercado absurdos, chegando uma única tulipa a valer 24 toneladas de trigo. Até que um dia alguém percebeu quão absurda era a situação e os preços das tulipas despencaram vertiginosamente. Hoje, observamos um fenômeno semelhante: os bancos pegam um pedaço de papel que, por si só, não vale nada, dão-lhe um carimbo que atesta sua autenticidade perante o mercado de ações, seja como carta de crédito, seja como ações, seja como qualquer outra coisa que adquira valor monetário.

Transformam lixo em ouro.

Esse processo evidencia o caráter abstrato do dinheiro, aproximando-o do conceito de valor elaborado por Saussure, segundo o qual os elementos do sistema lingüístico não possuem valor inerente, mas o adquirem em oposição aos demais, como as peças em um tabuleiro de xadrez: o que define o cavalo não é sua cor, seu formato ou o material de que é feito, o cavalo é o cavalo apenas porque não é o rei, ou a dama, ou qualquer outro elemento do sistema. Se estendemos essa idéia à economia, percebemos que, desde o estabelecimento da primeira moeda, passou-se a valorar coisas úteis ao homem com base em um sistema abstrato universal em certa medida, através do qual passou-se a ter um parâmetro igualitário de valoração de bens, mercadorias e serviços.

Com o passar do tempo, o aspecto abstrato do dinheiro foi ganhando mais e mais relevância, e logo passamos das quantidades reais de dinheiro às quantidades abstratas: um quilo de ouro é, evidentemente, mais ouro que cem gramas de ouro, mas o que faz com que uma nota de cinco reais seja mais dinheiro que uma nota de dois reais? Em um nível maior de abstração, chegamos finalmente a títulos de investimento, cartas de crédito e até ao saldo da sua conta bancária: não há, realmente, nenhum dinheiro ali, apenas a afirmação do dinheiro, o dado, a informação do dinheiro. Não há uma caixinha no banco com seu nome na tampa e todo o seu dinheiro dentro.

Dizer que vivemos à mercê da vontade dos investidores talvez seja dramático demais, mas vemos todos os dias anúncios de pacotes para tentar estancar o estrago da especulação mundial, da irresponsabilidade de investidores que se levantam de madrugada para checar o fechamento dos pregões da Ásia e amanhecerem comprando e vendendo.

O fato é que a economia e o dinheiro em si se tornaram tão abstratos (melhor, passaram a evidenciar de tal forma seu caráter abstrato) que já não somos capazes de prever, por exemplo, os impactos da crise financeira na chamada economia real, quando o simples fato de se designar uma economia real já nos mostra que há uma economia irreal, cujos impactos não podemos mensurar, mas que, certamente, se baseia em um jogo de abstrações no qual eu não podia fazer algo por não possuir o dinheiro necessário e, de repente, passo a poder, mas continuando sem possuir o dinheiro, apenas porque o mercado adquiriu uma informação a meu respeito: "agora ele tem dinheiro", mas na verdade eu não tenho, o que eu tenho é a confiança dos investidores. Se é verdade que vivemos em uma sociedade da informação, essa verdade diz respeito especialmente ao mercado.

O problema é distinguir em que ponto essa informação, esse dinheiro que não existe, se transforma em escolas, em comida, em bibliotecas. Mais ainda: como se pode confiar sua existência ao vai-e-vem desse dinheiro que, na verdade, não existe.

"Além disso, meu filho, fica atento: fazer livros é um trabalho sem fim, e muito estudo cansa o corpo.

"Fim do discurso. Tudo foi ouvido. Teme a Deus e observa seus mandamentos, porque aí está o homem todo." (Ecl 12,12-13)