sexta-feira, 18 de setembro de 2009

De máquinas do tempo

Nas palavras da vida de Joseph Klimber, a vida é uma caixinha de surpresas. E qual não foi a minha surpresa ao me deparar hoje com um belo Opala - vou escrever assim mesmo, afinal Opala não é um carro qualquer, mas sim um Carro - , inteirinho, lindinho, tudo no seu lugar, em um maravilhoso tom acobreado que reluzia ao sol. O Opala não tinha fumê, mesmo porque Opala não se presta a fumês, não é carro de garotão, e sua maravilhosa pintura parecia original e muito bem conservada, além da ausência de qualquer tipo de adição de massa na lataria, pelo menos à primeira vista. Como não tivesse nem fumê nem ocupantes, pude contemplar o carro cuidadosamente, e constatei a maravilha do banco de couro. Ah, aqueles bancos...Eram daqueles sem encosto de nuca e sem alavanca para levantar, embora o carro fosse duas portas. Assim, sem o encosto de cabeça, os bancos pareciam mais baixos, mas sobretudo podia-se perceber que eram bem mais largos que esses nossos bancos hodiernos. Como eu queria pegar a estrada naqueles bancos.

E agora você, que sabe-se lá porque cargas d'água veio bater neste abandonado blog, se pergunta
"por que diabos eu estou lendo isso?" Você se fará essa pergunta independentemente de quem seja, goste você de carros ou não. Sim, porque, se você gosta de carros, já deve ter percebido que eu não sei nada sobre eles; e se não gosta, parabéns, você é um herói por ter chegado até aqui. De qualquer modo, continue.

Pois bem, falávamos dos bancos. Voltemos a eles. Olhando aqueles bancos e me vendo neles com uma força imaginativa que eu mesmo desconhecia ter, me peguei também em uma lembrança das mais profundas, de uma única vez em que andei em uma badalada Hilux. Embora esses carros tenham fama de confortáveis - e de fato o são -, percebi neste momento que o conforto de uma Hilux nem de longe se compara ao conforto de um Opala. Claro que o simples fato de se estar em um Opala, ouvir o motor roncar como não se ronca mais, já contribui em muito para a experiência do Opala, mas aqueles bancos... tenho pra mim que não tem igual. Então pensei naquela história de gente velha - e que eu muitas vezes me pego reproduzindo, cada vez com mais frequência - de que as coisas era boas mesmo era antigamente, que esses produtos de hoje não duram nada. Aqui em casa tem uma batedeira de quando meus pais casaram (o casamento se acabou mas a batedeira não). Ainda durmo na minha primeira cama, e tenho certeza de que ela aguenta até eu casar. Vemos fuscas da década de 60 andando por aí, atirando pela descarga ou não. Já a estante do meu computador, se você passar perto ela treme toda. Acho até que a coitada tem Síndrome do Pânico. Meu mini system e meu dvd há muito foram pro saco, assim, de uma hora pra outra. E até mesmo as pessoas de antigamente duravam mais. (Quem tem uma avó com rinite alérgica levanta a mão.)

Não sou um entusiasta do passado (exceto no que se refere a Opalas, é claro), mas hoje, olhando praqueles bancos, eu pensei comigo: "não se faz mais conforto como antigamente".

Um comentário:

Caio Marinho disse...

Me parece que não havia Opalas no século XIX, Machado tinha que passar seus capítulos elucubrando acerca de narizes e ombros de raparigas.